No dia 28 de Outubro realizou-se a primeira sessão do Círculo de Leitura deste ano lectivo. Desta vez o livro em debate foi "As Migalhas de Beirute" da autoria de S. Costa Brava que esteve presente online. A sessão teve a presença de 16 pessoas que questionaram a autora sobre o livro em questão assim como os dois livros posteriores escritos pela autora.
No dia 28 de Outubro realizou-se a primeira sessão do Círculo de Leitura deste ano lectivo. Desta vez o livro em debate foi "As Migalhas de Beirute" da autoria de S. Costa Brava que esteve presente online. A sessão teve a presença de 16 pessoas que questionaram a autora sobre o livro em questão assim como os dois livros posteriores escritos pela autora.
Prof.a Almerinda Inglês: Sugiro a publicação deste excerto do post que escrevi no meu blogue sobre este livro e que pode ser ilustrativo do tema de "As Migalhas de Beirute" “As Migalhas de Beirute” é um livro muito duro, cuja leitura não me foi fácil. O facto de a autora ter vivido no Médio Oriente e em Paris teve certamente peso na escolha do tema. A primeira parte do livro traz-nos através de datas e acontecimentos marcantes naquela zona do mundo e em Beirute, em particular, a história de um país dilacerado pela guerra civil, por conflitos gerados do exterior, que têm tido os EUA e a Europa como potências omnipresentes. O papel da França no conflito libanês é inegável, mesmo quando os governos tentam através de divisões e de mistificações fazer de conta que nada têm a ver com os conflitos. Independentemente das divisões religiosas, foi através do exacerbamento dessas divisões que se tentou sempre chamar de religiosas as guerras, quando desde sempre os conflitos se deveram a questões de ordem geopolítica num território muito apetecível para quem quer mandar no mundo. Para além das mortes, a primeira parte do livro dá-nos a imagem de um país e de uma cidade divididos, com campos de milhares de refugiados palestinianos e com milhares de libaneses espalhados por todo o mundo, tentando refazer a vida como imigrantes. De forma larvar, o ódio vai-se instalando, os traumas de guerra não se apagam e a sede de vingança é aproveitada por milícias e grupos radicais que florescem num clima de desconfiança e de ódio generalizados.
A morte dos pais de Samir Bustani na Primavera de1988 é o ponto de partida para esta história de uma família libanesa. Apoiado por um tio há anos refugiado em Paris, o jovem Samir e a irmã vão conhecer uma realidade completamente diferente. No livro surgem temas em que se confrontam culturas, crenças e atitudes que dividem pessoas e famílias. A intolerância baseada na religião, a homossexualidade, a submissão da mulher na família, mas também a capacidade de resistir e continuar a viver num mundo em convulsão são alguns dos temas que o livro aborda.
Se o surgimento da internet foi uma ferramenta extraordinária para pôr em comunicação pessoas de todo o mundo, ou seja, um poderoso aliado da democracia, ela também tem sido usada para chegar a alvos frágeis e vulneráveis, facilmente manipuláveis que veem nela a resposta a frustrações e desilusões da vida. Muitos grupos extremistas têm-na usado em seu favor, radicalizando jovens inseguros, sem perspectivas de futuro, desiludidos da vida e facilmente ganhos quando lhes acenam com um paraíso que vingue anos e anos de frustração e infortúnio. O livro mostra-nos esse mundo de ódio que infelizmente contamina tanta gente, que gera destroços, migalhas e apenas destruição.
O ódio e a violência só geram cada vez mais ódio e violência. Todos perdemos e a democracia fica em risco. Será que temos capacidade de enfrentar a besta que nos quer destruir?"

